segunda-feira, 26 de março de 2012

ERA UMA VEZ UM PROFESSOR...

Ubiratã Ferreira Freitas*
Por muito tempo não entendia o que significa as palavras "temos que mudar", na verdade o que é uma mudança, um caminhão cheio de móveis? Ir de um lugar para outro? Estar sempre se movendo? Ter novas atitudes e não aceitar as permanências?
Pude entender essas perguntas quando resolvi voltar a estudar lá com meus 40 anos. Determinei-me em fazer uma faculdade, mas como fazer isso, é muito distante de um simples caminhoneiro semianalfabeto, ou melhor, um analfabeto funcional.
Em minhas viagens eu pensava como era estar na frente das pessoas falando, explicando, subir em um púlpito, mostrar em um seminário a pesquisa realizada, ou um projeto, estar em um auditório e discursar sobre determinados assuntos e conhecimentos científicos.
Bem, para eu poder fazer tudo isso tenho que recomeça, então, entrei em um EJA e concluí o Ensino Médio, fui para um vestibular para fazer o curso de licenciatura em História, quando me formei, me escrevi em um curso Mestrado e fui contemplado com uma bolsa Capes.
Desde então, a "mudança" começou a fazer sentido, o conhecimento me fez outra pessoa e o sentido de mudança teve outro significado, ou seja, a mudança para qualquer sociedade ou indivíduos é valorizar a educação, pois a partir dela, as mentalidades mudam e se organizam para o bem comum de todos.
O verdadeiro sentido de "mudança" é a mudança de comportamento, de atitude, busca da lucidez e participação dentro do meio em que se vive. Entendo que para nossos governantes, isso tudo não é viável, pois em uma sociedade esclarecida não se aceita imposições, e as manifestações tornam-se mais frequentes em diferentes formas. Busca-se definições de valores sociais e preservação da ética, do respeito, do conhecimento e principalmente o valor do humano.
Formei-me em História com 45 anos de idade, aos 48 me tornei mestre em História, hoje tenho 50 anos, sou professor contratado do Estado e vou parar de atuar na área, pois não é justo sair de um senso comum, permanecer 10 anos dentro de universidades, e receber esse salário defasado e sem perspectiva de melhora, pois se o governo federal manda pagar o piso salarial desde 2008, e que hoje está em R$ 1.450.00, e o governo diz que não vai pagar, então pela minha ignorância, entendo que as leis do Brasil somente tem valor para uma minoria que se encontra no poder.
Estou revoltado e indignado com o desrespeito que os governantes tem pela Educação. Inventaram o novo Ensino Médio, mas não sabem como fazer, lançam a ideia e nós professores temos que nos virar para dar conta, em colocar em prática uma ideia mal estruturada, sem um estudo de fato, sem um preparo de qualificação metodológica e pedagógica para ser aplicado com eficiência para um resultado satisfatório.
Peço desculpas aos leitores por talvez, ter usado algumas palavras mais contundentes, pois nesse momento não vejo uma melhora para a Educação e muito menos para a carreira profissional de nós professores, que realmente tem um comprometimento em fazer um aluno aprender o conhecimento científico e usá-lo em seu desenvolvimento como pessoa e como sujeito ativo na sociedade.
*Professor
FONTE Zero Hora / SINDPROFNH

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